No dia 19 de dezembro de 2021, ocorreu a cerimônia de inauguração do Memorial do Holocausto e das melhorias no Cemitério Israelita Santa Cândida. A obra foi realizada pelos irmãos Irit, Gal e Ron in memoriam de Amnon e Josette Czerny z”l. Com projeto concebido pelo arquiteto Claudio Libeskind, de São Paulo, e executado com apoio da arquiteta Eliane Melnick Fisbein.
O memorial tem uma escultura, com lanças que brotam do chão, saindo de uma Estrela de David, na qual estão escritas as palavras: Tsedaká; Shalom; Tikvah; Chaim Tovim; Chinuch e Mitzvah. As pontas afiadas e assimétricas representam a violência enfrentada pelo nosso povo. Mas existe esperança nos raios que se espalham pela terra, que representam a coragem e a resiliência do povo judeu em continuar praticando o Tikun Olan, e no piso da escultura, o formato de uma Estrela de David. O arquiteto Claudio Libeskind conta alguns detalhes deste que foi o primeiro memorial que criou. “Usamos o aço corten, um material vivo que vai mudando ao longo dos anos, e que leva cobre na sua composição e vai criando uma pátina cor de ferrugem que o protege por muitos anos”.
Outro destaque é a trilha musical reverenciando a memória de todas as vítimas que morreram no Holocausto. É possível sentar no espaço e ouvir a produção feita especialmente pela cantora, compositora e produtora musical Fortuna Safdié. “Foram inseridas canções emblemáticas que se mesclam com a História do Povo Judeu, iniciando-se com a música Erev Shel Shoshanim (A Noite das Rosas), de Yosef Hadar e Moshe Dor que foi gravada em 1957 na voz de Yafa Yarkoni z”l, renomada cantora israelense, prima de Amnon Czerny z”l, e interpretada por mim. Esta canção é um dos primeiros temas de amor associada à época da criação do Estado de Israel”, explica Fortuna.
“Não poderia deixar de incluir as músicas de Naomi Shemer z”l, considerada a primeira dama da música e da poesia de Israel, Yerushalaim Shel Zahav, de 1967 e Lu Yehi, de 1973. Yerushalayim Shel Zahav, Jerusalém de Ouro, foi composta após a Guerra dos Seis Dias, quando Jerusalém retornou para os judeus. Esta canção se tornou um hino nacional e espiritual de Israel, sendo a música mais cantada de todos os tempos em hebraico”, complementa.
Zog Nit Keinmol (Não Diga Nunca), Hino dos Partisans, composta em yidishe, em 1943, é apresentada em português, na versão de Gustavo Kurlat:
“O presente brilha no sol do amanhã
que o inimigo se desfaça em nosso afã,
mas se o sol não iluminar logo esse chão
que o futuro faça eterna essa canção.
Este grito é chumbo, sangue e coração,
não um canto alado, nem uma oração
entre a queda de muralhas e a razão,
canta um povo que está em pé
e de armas na mão”.
El Male Rahamim, entoada pelo chazan Oren Boljover, é uma oração fúnebre aqui recitada em memória dos seis milhões de judeus, vítimas do Holocausto, que jamais serão esquecidos! O Kadish, que em aramaico significa Sagrado, enfatiza a glorificação e santificação do nome de Deus, e reverencia e pontua na liturgia a memória dos entes que partiram. Por fim, na voz do Chazan Ale Edelstein, o pedido profundo de Hashkiveinu Adonai, para que o Altíssimo nos cubra com seu manto de Paz.
Além do Memorial do Holocausto, a obra no Cemitério Israelita Santa Cândida contou com diversas melhorias, desde a fachada com novo portão e pintura, construção de sala de apoio com banheiros, corrimão, bancos, iluminação e paisagismo.
Na inauguração estiveram presentes os rabinos Pablo Berman, da Kehilá do Paraná, Yossi Schildkraut, do Beit Chabad do Itaim, e Mendy Stolik e Mendy Labkowski. Foram acesas 6 velas em memória das vítimas do Holocausto.
Irit Czerny Schilis, agradeceu em nome da família e de seus irmãos, Gal Czerny e Ron Czerny, a oportunidade de realizar a obra. “Tudo começou quando a ima faleceu e o aba disse que tínhamos que deixar o cemitério mais bonito. Em seguida, foi ele quem faleceu. A obra durou um ano e meio e, além das melhorias, a ideia do Memorial é porque meu pai era um sobrevivente do Holocausto”, contou.
A pedra que explica o projeto veio de Jerusalém: “Ela é inspirada no Memorial Flecha Negra, em Sderot, Israel, em que há 51 pedras como essa contando a história das missões das quais meu pai, Amnon, atuou como comandante”, explica Ron.
Charles London, diretor religioso da Kehilá, comentou sobre a particularidade da nossa comunidade: “Apesar de sermos um número pequeno de famílias em comparação a outras comunidades, o nosso vínculo com o Holocausto é muito grande. E esse Memorial tem uma simbologia muito grande, como tudo no judaísmo”.
A família Czerny pensou com profundo respeito, carinho e dedicação como podiam disseminar a luz de Amnon e Josette z”l, para continuar brilhando, deixando para toda a nossa Kehilá um legado de memória, de evocação, de luz, símbolo de eternidade e presença. Por isso os sábios do Talmud percebem e chamam este espaço sagrado de Beit Almin, ou Beit Olamim, a casa da presença eterna das almas dos nossos entes queridos”, afirmou o Rabino Pablo.
O rabino Yossi Schildkraut comentou que “nossos entes queridos que já se foram vivem através de seus descendentes. Mesmo após algumas gerações do Holocausto, talvez a gente não se lembre a mesmas histórias, nem tenha vivido o que eles passaram, mas a grande diferença é que a gente se importa em manter essa história viva”.
O presidente da Kehilá do Paraná, David Chaim (Duda) Bergman agradeceu a doação em nome da comunidade: “A família Czerny se dedicou muito para este projeto que é um enorme presente para todos nós. Nossa Diretoria está aberta para propostas e projetos especiais como este e, sem dúvida, é uma grande mitzvá e uma linda homenagem aos queridos que já se foram”.
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